sexta-feira, 25 de abril de 2008

Ressuscitando textos antigos (I).

2004-
Carta escrita fora do tempo certo, para devolver uma música a mim dedicada no tempo exato.

"Das cartas que não escrevi,das coisas que não disse,do que deixei escapar...você era o alvo das palavras de amor que não proferi nas vezes em que te desejei em silêncio e soluço íntimo,após te dispensar categoricamente por razões que até eu,hoje ainda, desconheço.
De tudo que vivemos,fica o sentimento de que tudo foi mal vivido,o sentimento de que você finalmente se encontrou,enquanto eu não paro de me perder.Não me penitencio por isso...Às vezes nossos anseios perdem mesmo o rumo de casa e até voltarem é um sacrifício.Mas acho que os meus já estão cansados de passear.
Do que gostaria de ter dito,nem sei mais.São tantas e infinitas coisas,que me escapam ao uso natural das palavras.Pobres palavras,que tem como destino,em geral,anunciar tragédias,alegrias,sentimentos,desejos e tinham tanto a anunciar quando permaneceram intactas e intocadas.Implacáveis dentro da minha mudez opcional e ignorante que me poda por diversas vezes das coisas que deveria dizer.
O que eu fiz?Nada.Esse é o problema.Quantas vezes te deixei escapar como água corrente da torneira em asseio cotidiano.Quantas vezes em asseio cotidiano,deixei que tuas marcas fossem pelo ralo.Quantas e mais tantas vezes, fui até cruel.Não adianta me redimir e dizer que hoje tudo seria diferente,que a cegueira da alma foi a responsável.Esse não é o problema até porque um problema,em geral,tem alguma solução.Isso tudo é um grande fato,sim,imutável que me consome os dias,as horas,os minutos e os pensamentos.
Vejo tantos ao meu redor se podando,se impedindo de viver determinadas coisas,por puro medo.Eu entendo.Mas não repetiria esse erro.Sim,é um erro.Até que me provem a respeito da reencarnação,a gente só vive uma vez.E do que adianta desperdiçar uma vida por medo?Só que a gente só se apropria dessa “sabedoria”-se é que podemos chamar assim- quando o sentimento muda.Vai o medo e fica a nostalgia.Ficam as letras de músicas,ficam as cartas,as mensagens,as declarações.E é bom que essas coisas fiquem.Ficam as coisas que eu não disse -essas ficam comigo na verdade.Ficam as coisas que eu ouvi e que não devolvi a tempo de sinalizar para o seu ego( e para o meu também), que tudo não passou de um grande equívoco emocional e que o medo,famigerado,temido e obsoleto medo era sim,mais uma vez,responsável por tudo que minha boca se negou a dizer,por tudo que meus olhos se negaram a extravasar.Essa característica “esfíngica” me parece um pouco de genética.Nem tudo são flores.Herdei coisas boas,mas herdei também coisas que me dão vontade de instalar em mim um botão “delete”.E falando tecnologicamente,se eu tivesse também um botão de “desfazer comando” e além disso,pudesse passar um antivírus no passado,tiraria tudo aquilo que nos bichou.E provavelmente,não estaria escrevendo extensas e inúteis linhas,que nada tem a acrescentar a ninguém.Nem mesmo a mim,porque o que não tem remédio,remediado está.Fico feliz por tua ferida estar curada,sarada,sem casquinhas.Enquanto isso,termino de trocar os últimos band-aids que me restam e trato de usar um bom anti-séptico para prevenir mais bactérias que gostariam de se instalar e me consumir,mas que eu não permitirei porque tenho a plena convicção de que dias melhores virão.O melhor da dor é o fim dela.
Afinal,como estou?Vou bem,obrigada."

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"RECEBE MENOS QUEM MAIS TEM PRA DAR"