quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Derradeiro.

Talvez essa seja a última carta, a última despedida, a última tentativa de alinhavar meus pensamentos em busca de respostas para a minha dor, para a sua ausência, para o que eu sinto.
Quando você partiu, sem deixar rastro, sem aviso, sem mais nem menos...eu senti o meu chão faltar. Eu, que sempre me julguei muito forte para o saldo de tristezas dos meus 23 anos, me vi minúscula."Eu, atolada na areia, perdia meus pés"- perdia meus pés e parte das minhas forças.
Desde aquele fatídico início de Setembro, morro um pouco todo dia. Não parece, eu disfarço muito bem, me cerco de alegrias, me cerco de pessoas boas e amigas, de luzes e de desejos de prosperidade. Mas, quando penso no que está posto, no gosto amargo da sua ausência, no não te ter por perto o suficiente para te dar um abraço, na falta que sinto da sua forte presença...me abato. Não devia, mas me abato.
Me abato porque desaprendi a viver sem você. A sua força de vida me motivava, me dava graciosidade ao lidar com os problemas mais difíceis. Na verdade, sei do quanto me protege. Não que eu tenha isso por simples convicção, mas eu sinto verdadeiramente, haja vista tudo que me aconteceu depois de tua ida e o fato de eu estar inteira para ajudar os que eu amo, do jeitinho que aprendi com você. Inteira eu estou, mas com partes coladas a Super Bonder.
Inteira e perdoando, inteira e amando, inteira e me doando, inteira e vivendo, enfrentando as coisas em sua totalidade, de cara para bater ao mundo, haja o que houver, mas por dentro muitas vezes pequena. Uma criança. Um bebê que chora mas chora baixinho, para não expor a fragilidade. Um bebê que quase não tem quem o acuda, massacrado pelas coisas, pela vida, pelas circunstâncias, sofrendo quase que em silêncio. Um bebê que expele seus traumas e suas ansiedades sob forma de refluxo. Um bebê que viaja para dentro dele mesmo, descobre que seu pranto é muito mais do que uma simples birra e de repente se vê crescido. Porque não tem escolha, porque não aguenta mais carregar o peso que a vida deu e se encarrega de ir dando leveza à ela diariamente. Mas há dias em que, leveza é simplesmente pedir muito.
Mais do que dona de uma insuspeita fragilidade, só exposta para muito poucos, sou alguém que essencialmente precisa de "alguéns". Eu precisava de você, tanto ainda. Mas foi chegada a hora do adeus, mal sabia e eu e por isso, não soube aproveitar. Perdi uma oportunidade sem igual de estar ao seu lado. Chorei e quando penso que "minha alma chorou tanto/que de pranto está vazia/desde que aqui fiquei/sem a tua companhia", descubro que em alguns momentos da vida e em algumas circunstâncias em que te ligar seria uma grande solução, só me resta guardar o que deixou e chorar o que me resta até que eu seque, sucumba ou me conforme. Mas o importante é que você saiba, dinda: eu te amo e amei demais!Com todas as forças, mesmo que isso não tenha ficado claro em alguns momentos. Te amo com a intensidade que amo os que estão sempre comigo. E quero amar mais a tua memória e os que me cercam, para que eu nunca seja assaltada pelo arrependimento de não ter dito algo que era necessário, só pelo ridículo medo de ser piegas.

Nenhum comentário:

"RECEBE MENOS QUEM MAIS TEM PRA DAR"