quarta-feira, 22 de abril de 2009

Não vou postar fotos, porque a minha dor não se traduz em imagens. Mas, apesar de inevitavelmente os dias 4 e 5 serem dias de muita saudade para mim, pelo menos durante um tempo ainda, às vezes acontece de eu ser assolada pelas lembrança doces da minha amada tia-madrinha-"mãe"-amiga Cleyde, num dia qualquer. Num dia 22 por exemplo.
Eu não gosto de cultivar esse tipo de sentimento, porque acredito que não faça nem bem para ela. Mas ela estala em meus pensamentos com muita força, em alguns dias.
Eu não sei se vivo anestesiada, se ainda não entendi o que aconteceu, se vivo esperando um telefonema que nunca mais vai acontecer, se me arrependo das vezes que não pude acompanhá-la em algo ou se simplesmente dói sem que eu precise ficar buscando uma justificativa. Mas fato é que quando eu me dou conta do quão só eu me sinto sem ela, me bate um certo desespero. Me dar conta de que eu ainda vou viver mil coisas importantes e que ela não vai estar (fisicamente) comigo, dói. Me dar conta que ela simplesmente não existe mais, ao menos neste plano, dói. Me dar conta que no auge do meu sofrimento, aconteceram coisas igualmente terríveis para mim e que eu tive que acumular minhas mazelas e conviver sozinha com elas, dói mais ainda. Eu faço um grande esforço para nunca desamparar ninguém, correndo o risco de pecar até pelo excesso, mas nunca pela omissão. Mas apesar disso e apesar da crença de que o que fazemos, volta para nós, me sinto desamparada. Me sinto sozinha com os meus problemas, porque se eu não resolvê-los, ninguém o fará. Engulo mágoas, angústias, revoltas, chateações...tudo, porque não quero julgar ninguém. E correr o risco de magoar injustamente. Não sei se recebo tal cuidado de volta.
Viver sem ela me deu essa noção aterrorizante de vazio, que se é real ou não, são outros quinhentos. Não é a primeira nem será a última vez que me sinto assim, pode crer. Mas acho que nunca vivi isso com tanta consciência. Mas fato é que esse vazio toma conta de mim muitas vezes e apesar de todo o meu bom humor, há em mim uma lacuna absolutamente impreenchível e até mesmo incompreensível para quem nunca perdeu a mãe ou alguém que, na falta de, contribuísse para a proximidade de uma representação. Na verdade, é muito complicado compreender o ser humano. Cada um sabe onde dói e o outro não é obrigado a compreender (apenas a respeitar) a dor que não dói nele.
E parafraseando Elisa Lucinda, "olho para ela e seu retrato/naquele dia, Deus deu uma saidinha/E o vice era fraco".

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"RECEBE MENOS QUEM MAIS TEM PRA DAR"