domingo, 20 de setembro de 2009

Projeto


Um projeto de vida é, futuramente, fundar a "Fundação Cleyde Prado Maia".A justificativa está abaixo.




“A morte, assim como o amor, não se entende”.
Jorge Forbes – Psicanalista.

No ano em que Lester Bowles Pearson ganhou o prêmio Nobel da Paz, por seu papel como Ministro das Relações Exteriores do Canadá, na mediação da Crise de Suez; nascia a 11.213 km de distância, no Rio de Janeiro, uma mulher que se tornaria digna de todas as honrarias quando o assunto fosse novamente paz e principalmente: a luta por um Código Penal mais rigoroso que contemplasse a justiça e combatesse a impunidade.
O ano era 1957 e o dia era 27 de Agosto. Nascia Cleyde Loretti do Prado Maia.
No ano em que a Constituição Brasileira atualmente em vigor foi promulgada; nascia na Rua Uruguai, na Tijuca, também no Rio de Janeiro, uma menina que teria a vida abreviada anos mais tarde, pela violência e pelo caos urbano instaurado em nosso país.
O ano era 1988 e o dia era 30 de Agosto. Nascia Gabriela Prado Maia Ribeiro, filha única de Cleyde.
Quartorze anos mais tarde, uma bala perdida atingiria Gabriela, durante um tiroteio na estação São Francisco Xavier, do Metrô carioca. O ano era 2003 e o dia: 25 de Março, uma terça-feira ensolarada que virou noite às 15:30 da tarde com a morte incompreensível de uma adolescente com a vida toda pela frente. Do alto de sua dor, Cleyde encontrou força e determinação para transformar o seu luto em luta e fazer o que estivesse ao seu alcance para que outras famílias não passassem por tal sofrimento.

“Pra nunca mais
Ver na tv
Outra mamãe
Chorar, sofrer
Enxugue as lágrimas
Que rolam em pranto
Deus que cubra a todos com o sagrado manto”

Nos versos cantados por Leandro Sapucahy e feitos em homenagem à Gabriela, estão explícitos os desejos de Cleyde.
Durante três anos, colheu assinaturas do país inteiro e em 08 de Março de 2006 entregou em Brasília um projeto de iniciativa popular, que pedia alteração de alguns itens do Código Penal, acompanhado de um milhão e trezentas mil assinaturas, ou seja, assinaturas que representavam mais de 1% da população eleitora brasileira.
Cleyde foi incansável e dividia seu tempo entre a campanha contra a impunidade, as cobranças aos governantes e apoio às vítimas da violência. Foi a forma que encontrou para sobreviver e resistir à perda de Gabriela. E resistiu bravamente por cinco anos e meio, até 05 de Setembro de 2008, uma semana depois de receber a Medalha Tiradentes, maior honraria concedida pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e destinada a premiar pessoas que hajam prestado relevantes serviços à causa pública naquele Estado. Um acidente vascular cerebral impiedoso levou Cleyde e a esperança estampada nela e trazida por ela, de um país menos violento.

“A bala que matou Gabriela, se alojou definitivamente no coração de Cleyde”
César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro.

Cleyde Prado Maia, que fez de um acontecimento suficiente para dizimar qualquer mãe, razão para lutar, encontrando forças ao invés de se entregar à justíssima fragilidade que a morte de um filho pode trazer. Que perpetue-se a memória de uma mulher que tirou a roupa preta, símbolo do luto, e vestiu verde, cor da esperança e de seus olhos, estes que mesmo depois de cerrados pelo intransponível da vida, puderam ver um grande desejo de Cleyde realizado: a doação de órgãos, o último ato de amor de alguém que conhecia intrinsecamente o significado da palavra “generosidade”. Afinal, seu coração foi o último órgão a parar
de funcionar.

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"RECEBE MENOS QUEM MAIS TEM PRA DAR"