quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ensaio sobre a cegueira

Ou sobre o egoísmo, sobre a covardia, sobre o desapego, sobre a esquisitice, sobre a ingratidão...
A lista não termina nunca.

Peço licença ao grande José Saramago para me utilizar do título de uma de suas grandes obras como título desta postagem. Eu também podia ter parafraseado um verso de uma música muito brega, praticamente risível; mas que caberia bem no que está sendo proposto com este post: "Quem planta sacanagem, colhe solidão". Mas ainda acho, obviamente, que Saramago é a melhor e mais eloquente opção.

Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Não sei, talvez seja aquele que olha e não enxerga porque suas deficiências (existenciais, sobretudo) são tantas, que não se pode esperar atitude diferente daquela célebre imagem dos macacos (dos quais viemos, aliás, vale lembrar!) conhecida como "Três Macacos Sábios": não se ouve, não se vê e não se fala. Nem sobre o mal, nem sobre mais nada. Nem sobre o que pode nos consumir o resto dos nossos dias.
Há quem pense que aquele que olha e não enxerga está com uma venda invisível cobrindo os olhos.
Invisível aos olhos do deficiente(embora não necessariamente), que não se reconhece como tal. Aos olhos dos outros, a venda grita e há quem considere ser ela uma espécie de "álibi" para a acomodação natural que a cegueira traz. Para que enxergar e por ventura se desagradar, se incomodar com o que vê, seja por insensibilidade, desapego, despreparo, covardia, comodismo ou ignorância (para alguns casos, voto em tudo-ao-mesmo-tempo-agora)? Se nunca na vida você precisou resolver coisas que diziam mais respeito a você do que a qualquer outra pessoa(desde coisas básicas tipo limpar uma carne, até coisas mais complexas como comprar um apartamento, por exemplo), ou ainda que o tenha feito, o fez pouco; para que aprender como se faz? Ou para que provar que sabe, se haverá a resolução certa e provavelmente muito melhor do que a sua capacidade poderia produzir?É típica perda de tempo e este precioso bem, quando alcançamos uma certa idade, não pode ser desperdiçado.
Eu acho muito, mas muito triste ver gente que teria nas CNTP´s, uma potencial capacidade de ser humano de verdade, na acepção da palavra, mas que como bagagem apenas conseguiu construir coisas que não perdurarão e/ou que irão para o túmulo. De que valeu viver e ser utilizado como exemplo a não ser seguido? A vida pode até ser curta, mas as pessoas não precisam (e sobretudo não DEVERIAM) ser/ se fazer efêmeras. Filósofos de boteco, autores de auto-ajuda e afins, alegam que o que a gente deixa no mundo é a "marca" que deixamos nos que conviveram conosco. Podem soar cafonas essas afirmações, mas realmente já pensou em quão deprimente pode ser não deixar nenhuma referência positiva para ninguém?Acredito que para estas pessoas, a vida será uma eternidade rumo ao extenuante vazio que o futuro certamente trará, quem sabe, com sorte, acompanhado de um remorso que poderá ser digerido por Deus ou pela Força que for (acreditem nela ou não), como arrependimento tardio e sem grande função. Mas ainda sim um arrependimento que pode vir a ser respeitado e reconhecido em nome da eternidade, da qual, me arrisco em dizer, ninguém escapará. Seja qual for a sua crença ou seja ela nenhuma.

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"RECEBE MENOS QUEM MAIS TEM PRA DAR"