segunda-feira, 12 de maio de 2008

A mãe absoluta.


Eu ia apenas postar algumas fotos no dia de hoje, numa espécie de homenagem ao dia das mães, e não escreveria nada.Mas há coisas que pipocam dentro de mim com constância e precisam ser transpostas para o papel.
A experiência de não ter a mãe por perto é muito ímpar.Ninguém que não tenha passado por isso é capaz de alcançar.Acredito que seja muito pior perder um filho, porque não é a ordem natural da vida, mas a desproteção que dá perder a sua maior referência de vida é algo que também não dá pra mensurar.
Várias vezes me peguei pensando como teria sido tudo se nada disso tivesse me acontecido, ou se tivesse me acontecido mais tarde.Não dá pra imaginar como teria sido.Dá para dizer como foi.
A minha mãe, pelo pouco que me lembro e pelo muito que me contam, era profundamente parecida comigo: era generosa, era calma, falavra palavrão, gostava de brincar, gostava de ver as pessoas felizes, era emotiva, sensível, forte e medrosa ao mesmo tempo.
Uma vez, uma pessoa muito importante me disse que quando a gente perdia a mãe, o importante era ter uma família, mesmo que a mãe fosse a gente.Eu sinto isso de uma forma muito peculiar, porque não sou mãe e nem tenho a pretensão de ser neste momento e nem num momento próximo, mas eu sinto o meu instinto de proteção 24 h por dia.Sou preocupada, atenciosa, cuidadora dos que eu amo em tempo integral.Esqueço de mim se for preciso, tiro a roupa do corpo se necessário, mas não quero que ninguém sinta as privações que eu já senti.Privações emocionais, eu digo.Porque, de material eu sempre tive tudo e ainda sim, tudo sempre me faltou.O que prova que ter tudo não é necessariamente ter alguma coisa que valha a pena.Tenho medo disso quando eu for mãe, porque passar a mão na cabeça não ajuda, não educa e eu tenho a sensação de que jamais conseguirei repreender um filho.Mas eu não sou capaz de ver ninguém sofrer perto de mim, não sou capaz de privar alguém de alguma coisa, não sou capaz de ver ninguém chorar sem me sensibilizar.
Quando a mãe falta, você pode ter o mundo ao seu redor e se sentir bem na maior parte do tempo, mas o medo do abandono te persegue.A sensação que se tem é que você pode ficar sozinho a qualquer momento.Não se lida nunca bem com isso, porque a pessoa que mais te amava no mundo, por algum motivo jamais compreendido, precisou te deixar.O que te leva a crer que qualquer outra pessoa, não intencionalmente necessariamente, também pode fazer isso.
Depois de 15 anos, pode parecer até um certo drama dizer isso, pode parecer que eu já devia ter superado, pode parecer que sofrer é opção, mas a morte da nossa mãe deixa buracos intapáveis.
Talvez no dia que eu tiver um filho, eu resolva essa questão.

Fui muito bem criada e como já disse, nada nunca me faltou, mas eu criei uma independência também por necessidade.Sou capaz de, na prática, resolver qualquer problema meu ou de qualquer outro ente querido sozinha.
Mas ao mesmo tempo, essa mesma perda cria uma dependência sem fim.Você espera sempre muito de tudo e de todos.
Tenho grandes referências maternas.É como se eu construísse a mãe que eu não conheci direito, pegando as melhores coisas de cada uma das mulheres que fazem parte da minha vida.E isso dá uma mãe e tanto.
O dia das mães é um dos dias mais complicados para mim.Porque por mais que eu me dedique a ter um momento para a minha mãe, eu não obtenho uma resposta concreta.Então, isso dá uma sensação de vazio muito grande.E neste momento específico, eu estou tendo que lidar com uma perda que é momentânea, é apenas física, mas que me dá uma sensação muito ruim, mais uma vez de abandono.É claro que parece exagero dizer isso, mas cada sensação dessas, cada desatenção, dá uma idéia de que realmente a vida é muito efêmera e de que a gente precisa aproveitar as pessoas que estão perto da gente, ainda que ela estejam muito perto e que a gente sequer tenha tempo de sentir saudades.
E essa noção, essa idéia ainda que errônea, de que o chão se abre diante de nós, é muito difícil e uma hora passa.Mas leva um tempo que pode ser precioso na vida da gente.

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"RECEBE MENOS QUEM MAIS TEM PRA DAR"